quinta-feira, 20 de maio de 2010

VAMOS FALAR SOBRE ADOÇÃO ESPECIAL ?


A problemática da inclusão familiar de crianças e adolescentes têm povoado o imaginário de pessoas que desejam constituir famílias independentemente dos laços sangüíneos, de profissionais de diversos segmentos, de juristas e de todos que se preocupam o abandono infantil.


Desde a edição da Declaração Universal dos Direitos da Criança, em 1959, até a recente publicação da Lei nº 12.010/2009, a batizada Lei da Adoção, buscou-se oferecer um sustentáculo legal para criar condições de materialização do ideal de convivência familiar daqueles que estão sob a tutela do Estado, institucionalizados em quase todas as comarcas brasileiras.


A sociedade, indignada com a condição de abandono da infância e juventude, organizou-se no Movimento Nacional da Adoção e da Convivência Familiar que visa, sobretudo, ampliar o debate da comunidade sobre os estereótipos e preconceitos relacionados à filiação adotiva, inaugurando uma nova cultura da adoção no melhor interesse da criança e do adolescente e da adoção necessária de crianças maiores, de outras raças, de grupos de irmãos, de crianças com necessidades especiais e soro positivo.


Esse esforço coletivo resultou na criação dos Grupos de Apoio à Adoção (GAAs), espalhados por todo o país, e na consolidação da Associação Nacional dos Grupos de Apoio à Adoção (ANGAASSD) que se reúnem periodicamente em diversas regiões do país para dialogar e trocar experiências nos Encontros Nacionais de Apoio à Adoção (ENAPAs).


São seres humanos portadores de paralisias congênitas, cegueira, surdez, déficit cognitivo, paralisia cerebral, hidrocefalia, síndrome de down e uma variada gama de seqüelas de todas as naturezas. São seres excluídos de sua família de origem, do meio social e de todas as formas de convivência comunitária, que poderiam preencher o perfil ideal de candidato a filho, ou filha, se fosse desintegrado dois obstáculos: o preconceito e a falta de informação.


Ao longo de uma gestação biológica, significativo número de famílias não recusaria gestar, parir e criar, com muito amor, seus filhos especiais. Vemos, diariamente, o carinho e comprometimento de milhares de famílias nesse exemplo. Nesse caso, o amor familiar em nada se aproxima da mera piedade. É o amor, genuíno e simples, que se manifesta, capaz de superar barreiras, descobrir limites e ir além, muito além do convencional, do corriqueiro e do possível.


Na Adoção especial não poderia ser diferente. O que faz formar famílias adotivas é a intensidade de um olhar, a sintonia dos encontros de alma, que somente o amor materno e paterno podem explicar. No momento único da fusão de seres, de família e filho, é como se nenhuma dificuldade ou limitação existisse. Só o amor comprometido, informado e consciente é capaz de promover essa junção indissolúvel.


Mas, a realidade é triste, oculta e cinza. Os números oficiais de crianças e jovens especiais institucionalizados estão longe de representar a expressividade dessa demanda. Portadores de seqüelas físicas, visuais, auditivas, intelectuais e neurológicas literalmente apodrecem no calabouço da indiferença, longe de nossos olhos, do apoio governamental e do diálogo franco e aberto da sociedade.


Desde sempre o assunto invoca o indisfarçável constrangimento de lidar com uma situação de difícil solução: a inclusão social real e necessária.


Não falar, não questionar, não discutir sobre a realidade de nossos deficientes abrigados e não gritar a falta de políticas e programas para adoção especial traz a falsa sensação de que o problema não existe, pois está escondido atrás de muros e do preconceito, cegando nossa alma para mais uma possibilidade de formar famílias felizes, sim, famílias reais e possíveis.


Nem de longe, o aparato burocrata trazido pelos tratados internacionais e pelas legislações nacionais sobre inclusão de portadores de necessidades especiais infanto-juvenis garante, na teoria, o tratamento adequado para cada particularidade. Na prática, então, pouco, muito pouco, se tem feito.


O que se tem é o esforço hercúleo de alguns indivíduos, mobilizados por causas pessoais, para a formação de famílias mais que especiais, formadas a partir do mesmo amor genuíno que recria o núcleo familiar brasileiro, com integração afetiva e social de quem jamais sairia sozinho de uma instituição de acolhimento.


Nossa infância e juventude merecem o nosso zelo, nossa proteção e nosso comprometimento com a reintegração familiar e social. Se já é muito difícil para alguém crescer sem uma família e sair para o mundo sem um amparo emocional, imagine-se uma pessoa com necessidades especiais, portadora das mais diversas particularidades e limitações psicomotoras. Na realidade, elas nunca saem e apenas mudam de instituição.


O que vemos na prática é que a adoção, o amor familiar, traz uma enorme evolução para os filhos especiais, pois recebem carinho, atenção, tratamento e se desenvolvem muito além das perspectivas médicas.


Por essas razões, o movimento nacional em prol da adoção precisa voltar os olhos para essa significativa e importante comunidade infanto-juvenil, para lançar a problemática em nível nacional, propondo o diálogo franco e aberto com a sociedade, desmitificando preconceitos, trazendo informações e realizando sonhos.


(Fabiana Gadêlha)

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